quarta-feira, 1 de junho de 2011

Senhoras e senhores, não me venham com essa.

Algumas pessoas recolhem o lixo, outras arrumam algo para comer, você resolve ajudar a lavar louça, o tempo parece parado depois do desjejum, você olha os pontos de luz no céu, não há muito mais que o barulho de uma mosca, os dias passam, você não sabe quantos, você caiu da escada? Você escorregou no assoalho? Que marca roxa é aquela no seu cotovelo? Olá, meu nome é Ruth. Como é meu nome? Você olha pela janela, do segundo andar daquele casarão, quem é mesmo o dono daquele lugar? Você olha pela janela do segundo andar daquele casarão, pode ouvir o som de máquinas ao longe, tão distantes que apenas consegue percebê-las em silêncio absoluto, 1955, é esse o ano? 1968? Alguém fala um tanto, outro também, e mais um. 1969. 1861. O vinho escorre pelo chão, como uma água que serve para lavar ao contrário. Você pensa em dizer o seu nome, mas não se lembra muito bem e sempre que se põe para tentar lembrá-lo – ou tentar inventar um – alguém toma a palavra primeiro: a casa agora encontra-se cheia, repleta, lotada, os assoalhos rangem, as mãos se esbarram sem carinho, um cigarro queima o braço de uma garota, ela gosta, e ainda diz que gosta que um cigarro queime o braço da garota que, sem carinho, esbarra no braço de uma garota que esbarra no cigarro e diz que gosta e você desce as escadas e apanha a mochila e se manda e a porta da casa agora é um lago, um, dois, três, já, TCHIBUM! E as profundezas do lago nada mais são do que uma casa onde tudo é igual do outro lado, mas apenas um pouco diferente e as pessoas todas dizem ao mesmo tempo “NÓS VIEMOS AQUI PARA DIZER”, mas algumas o dizem rápido, outras devagar, umas em chinês, outras berram, outras falam na língua do P e você também diz aquilo, mas é como se de sua boca saíssem bolhas de sabão e seria mesmo muito melhor se realmente saíssem bolhas de sabão, mas é como se você dissesse aquilo e sentisse que saíssem bolhas de sabão que, na verdade, não saem, obstruídas pela passagem do Mantra.

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