sexta-feira, 23 de abril de 2010

Geladeiras conversam
Meu bem trouxe a carne no jornal o horóscopo de ontem
Me passe o sal?
No rádio, os rouxinóis
Alguém atenda o telefone
Pegue o troco em bala depressa mulher

É hora de ir para casa, o trem sacoleja dentro do estômago
A porta, a mesa, o carimbo, o chip, o chefe
Beijo-lhe a boca, é meio dia, é hora de dormir,
Mas a tampa da panela não abre, 2% na Bolsa
Rouxinóis sobrevoam a casa, o céu de verdade
Algo entra, apesar dos muros
E vou erguendo impedimentos
Não há delegacia para esse crime
O preço do contra?
Alguém atenda o telefone
Quem vai trazer a bandeja?
A boca do chefe tem um sorriso grande
Hora de dormir
Sinal da cruz, amém
O chefe de olhos fechados, à mesa, boca aberta,
o reflexo de seu maxilar sobre a superfície prata,
a língua de fora.
Pegue o troco em bile depressa mulher
A mesa e as paredes são frias, a carne tem cheiro de fogo
Me passe o sal?
Garfo, goela, gordura.
Não sei, não vi, não falo.

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